Confesso que empunhar um microfone esportivo já não me encanta mais como antigamente. Os fins de semana com a família se viram por anos a fio sacrificados... As longas viagens, o trânsito que te faz sair de casa sem saber se vai voltar... A neblina, a chuva, o frio, o calor, o sono, são ingredientes que acabaram tirando o sabor daquilo que Deus me deu como dom. A missão de transformar em palavras um evento esportivo se transformou em um fardo que a cada ano fica mais pesado. Tenho admitido que a decisão de parar está cada vez mais nítida no emaranhado dos meus planos. Acho que descobri que o fim de semana tem um valor infinitamente maior do que qualquer cachê que uma emissora pode pagar. Talvez seja crise existencial, meia idade, idade inteira... Sei lá... O que sei é que preciso ser honesto comigo e com aqueles que me pagam. Se mais da metade da vida se passou, me sinto na obrigação de gastar o tempo que me resta com aquilo que me dá prazer...
E por falar em prazer, nada teve mais sabor na minha trajetória no rádio esportivo do que ver um menino crescer. Era um deleite ver os dribles irresponsáveis, os passes precisos, a inteligência fluindo naqueles pés que eu sabia estar destinados ao vôo maior dos abençoados.
Anos 90... Um moleque franzino recém saído da pequena Monte Carlo se agigantava num esporte em que só os grandes sobrevivem. O futsal tinha ainda o “rei” Jackson na Perdigão e se curvava ao momento de Choco, Fininho e Manoel Tobias. E Joaçaba paria um talento que seria referência de uma geração que nos deu entre outros, Anderson, Simi, Schumacher e Falcão.
Estou falando de Seco... Bi campeão da Liga Nacional com a Ulbra e com o Vasco; campeão da Taça Brasil com o clube de São Januário e Campeão da América com a Seleção Brasileira. Um jogador que brilhou
Um dia ele me disse que ia parar... Queria virar técnico... E eu, que me acostumei em tê-lo como motivo de orgulho, passei a exercitar meu egoísmo. Não conseguia digerir a idéia de que o tempo estava prestes a me roubar definitivamente a inspiração de seus gols inacreditáveis. A última partida que narrei com ele em quadra, foi a final da Copa América no longínquo ano de 1998. De lá para cá, ele brilhou na Europa longe do meu olhar profissional, mas, muito perto da visão do meu coração que o acompanhava a distância. Virei seu web-master e fora das quadras, tabelamos uma amizade que sei, será eterna.
Não pensei na dor crescente e insuportável do seu púbis, não pensei nas suas longas viagens de perigos, neblinas, frios, chuvas e sonos... Pensei
Também para ele, o que era prazeroso virou um sacrifício...
E Seco parou...
Vencido por um problema crônico no púbis, abriu mão dos insistentes convites do Nápoli para voltar à Itália.
Decidiu que começará do zero na profissão de treinador. Humilde como sempre, abriu mão de sua condição de atleta internacional para um recomeço na Primeira Divisão do Futsal Catarinense. Vai tentar subir a equipe de Caçador...
A ele, toda sorte do mundo...
Provou que tem coragem e personalidade. Parou quando sentiu vontade.
Quanto a mim...
Sinto que nas jornadas que me restam, meu grito de gol nunca mais terá o encanto dos anos 90...
Marcos Valnei
Caramba o cara que me incentivou a sonhar em ser jogador de futsal parou, pra mim "O Cara" do futsal, meu esporte preferido. Agora nos resta torcer por ele como técnico e vê-lo jogando umas peladas por aí.
ResponderExcluirEita, eita em Valnei...parar é uma decisão difícil...que Deus te dê discernimento...agora vou falar uma coisa...fim de semana deveria ser sagrado.....que isso...trabalhar sábado e domingo ninguém merece..heheh
ResponderExcluirE o seco vai vir aqui pra perto de mim? sorte à ele....
Beijo garoto..
O texto dispensa comentários, simplesmente extraordinário. Quanto aos planos futuros, de dedicar-se a si próprio, tens o meu apoio. Sacrificamos muito do que temos e somos em troca de vis metais, e com o tempo nos damos conta que na vida o que se leva é a vida que levamos. Tua inspiração me remeteu ao velho e bom escritor argentino Jorge Luis Borges e seu texto 'instantes'.
ResponderExcluirQuanto a saída de Seco das quadras, ao ler sobre sua parada, me bateu
uma certa nostalgia. Te lembras uma vez que te contei que estando eu em um sofrível período em Portugal, em certa ocasião vi Seco jogando pela televisão? Pois é, vendo esse talento brilhando pelas canchas da Europa, senti orgulho de ser brasileiro e fui dormir aquela noite com muito mais saudades do Brasil. Viva Seco, Viva Marcos Valnei, Viva nós. enfim Viva a parte boa da vida.
Comentar o que? Do atleta que nunca teve medo dos adversários!!!sempre encarou-os com bravura e tornou-se vencendor....., conheci o amigo, o ser humano...., e percibi que ele também tem medo, fica assustado..., e isso ocorreu quando em um dia bonito, em uma brasilia 1974, seguindo de Nova Londrina para Marilena, enrescou o velho acelerado e pisando na embreagem foi aquele ruído imenso, assuntado aquele ser humano acostumado a trafegar em carrões pelas ruas de Barcelona ou Roma , Nápoli....
ResponderExcluirFazer o que???, se aquele era um momento de orgulho pessoal meu, conduzindo o SECO em minha velha brasilia, pisei fundo, também não passaria dos 90, e ele me pregou uma peça, nunca tinha enroscado o acelerador, rsrsrsrs...
mas eu tava muito FELIZ, o SECO estava no meu velho veículo...., Tivo o prazer de conhecê-lo....grande abraço amigo..
Sou grato ao mano Marcos Valnei por esta inesquecível ocasião...
inha admiração é imensa por ambos...