terça-feira, 9 de março de 2010

Para Marcele e Nereide


Ela veio num cruzamento de uma via que a poucos metros levava a um lar... Veio covarde e traiçoeira... Uma estrutura dupla de puro ferro de uma “Julieta” contra a carne e ossos frágeis de mãe e filha que montadas em uma biz, nem tiveram tempo de perceber que a morte sorrateira se deitava sobre elas. A morte é covarde, sádica e dissimulada.

Terminava ali, duas histórias... Juntas, desde o útero que gerava uma vida até aquela esquina onde a tragédia as esperava.

Era dia internacional da mulher... Elas trabalharam até tarde na floricultura da mãe. Quantas flores enviaram naquele dia para quantas mulheres...

Fim do expediente, voltando para casa e numa fração de segundos, o que era perfeito, explodiu em dor...

Dor do atropelamento, dor de quem fica, de quem descobre, de quem esperava, de quem nem disse tudo o que precisava ser dito.

Morte... Teu nome é dor!

Sei que me espera escondida aí em algum lugar... Sei que planeja contra mim e contra aqueles que amo...

Você é inimiga da vida e quem ama a existência, não pode te respeitar. Sei que um dia você vai calar minha voz, mas até lá, e principalmente hoje, quero gritar bem alto:


MORTE!!!! VÁ SE FODER!!!!

Marcos Valnei

quarta-feira, 3 de março de 2010

Reverência ao destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.


Carlos Drummond de Andrade