sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Carlos Drummond de Andrade


Infância



Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.

Minha mãe ficava sentada cosendo.

Meu irmão pequeno dormia.

Eu sozinho menino entre mangueiras

lia a história de Robinson Crusoé,

comprida história que não acaba mais.


No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu

a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu

chamava para o café.

Café preto que nem a preta velha

café gostoso

café bom.


Minha mãe ficava sentada cosendo

olhando para mim:

- Psiu... Não acorde o menino.

Para o berço onde pousou um mosquito.

E dava um suspiro... que fundo!


Lá longe meu pai campeava

no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história

era mais bonita que a de Robinson Crusoé.



Autor: Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A sabedoria de Veríssimo...

Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km. Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos. Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias. Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais... Os médicos deveriam proibir - como doem! Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde! E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda! Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna. Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau! Cinema é melhor pra saúde do que pipoca! Conversa é melhor do que piada. Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Sonhar é melhor do que nada!

Luís Fernando Veríssimo

Marcelinho Paraíba pode ser preso.

Rotulado como um dos principais reforços do São Paulo para a temporada 2010, o meia-atacante Marcelinho Paraíba recebeu uma notícia nada agradável no início da tarde desta quinta-feira. Por determinação do Juiz Vandemberg de Freitas, da 5ª Vara Criminal de Campina Grande, na Paraíba, o jogador terá de cumprir pena de seis meses de detenção em regime aberto na Casa de Detenção do Monte Santo. O jogador foi condenado à prisão por conta da agressão física realizada contra o técnico em radiologia Jackson Alves de Azevedo, durante festa que aconteceu na casa de show Spazzio, em Campina Grande, em junho de 2004. Na ocasião, o hoje atleta são-paulino teria mexido com a namorada da vítima, que reclamou e foi agredido, chegando a perder três dentes na briga e, segundo testemunhas, ser pisado quando estava caído no chão. Pena prescrita? Apesar da decisão da Justiça ter sido dura com Marcelinho, a possibilidade de o jogador ir parar atrás das grades é mínima. Segundo o advogado de Paraíba, Afonso Vilar, a pena não será cumprida, pois prescreveu o período legal, que é de dois anos após o fato ter acontecido. Vilar encaminhará uma petição ao Juiz do caso para que ele possa reconhecer a prescrição da pena e, com isso, declarar a extinção da punibilidade de Marcelinho Paraíba.

Fonte: Yahoo

Anos 70...

Hoje voltei aos anos 70... Não aos anos 70 da ditadura, da censura e da tortura... Arranquei do meu roteiro os assassinatos em nome de uma causa que nunca foi brasileira. Voltei aos anos 70 da minha primeira infância. Onde ser menino era sinônimo de liberdade e de criatividade... Nos caminhos do pretérito por onde andei, a trilha sonora era interpretada por Antônio Marcos, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis e Golden Boys... Sentei-me debaixo da goiabeira do quintal lá de casa e observei as galinhas ciscando o imenso terreiro onde vivi uma realidade de sonho... Subi na mangueira e acomodado em um de seus galhos saboreei uma deliciosa manga, que ha poucos instantes estava dependurada ao meu lado... Andei pelos cômodos da minha casa. Lá na cozinha tomei um café recém coado por minha mãe e bebi água numa caneca de alumínio, que descansava em cima da tampa de um pote de barro. Corri para a sala e diante de uma TV em preto e branco, assisti Bonanza, Durango Kid, , Zorro, Tarzan, Vila Sésamo e Shazan e Xerife. Um assovio me chamou para o campinho onde meninos iam brincar de ser Tostão e Pelé nos gramados da nossa fantasia. Novamente fui mocinho em filmes de faroeste que criávamos em nossa fértil imaginação. Joguei bola de gude e empinei minha pipa num céu azul livre de poluição... Mergulhei no riozinho e engoli pequenos peixes para aprender a nadar. Quando a noite chegou, nos encontrou brincando de esconde-esconde...

Hoje voltei aos anos 70... Rodei meu pião, andei de perna de pau, beijei o rosto da minha primeira professora e tropecei no último hippie que teimava em sonhar com a paz e o amor...

Finalmente voltei de minha viagem aos anos 70...

E deixei por lá Os Irmãos Coragem, a Selva de Pedra, a Escrava Isaura e o Sítio do Pica-pau-amarelo.

Hoje, na TV de plasma e colorida, vejo tragédias como a do Haiti e a de Angra...

Nos anos 70 a TV era em preto e branco, mas, a vida...

A vida tinha mais cor...


Marcos Valnei (janeiro de 2010)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Papo de bola

Ronaldinho Gaúcho deve ir a Copa? Este questionamento passou a ser “papo” obrigatório nas rodas de amigos de todo país. Por baixo da poeira de muitas polêmicas quanto a sua vida extra-campo, o futebol do craque está reaparecendo no Milan. Eu não tenho dúvidas quanto ao seu potencial técnico. Da cabine do Estádio Olímpico, vi seu início no Grêmio. Moleque atrevido, brincava de bola enquanto os demais jogadores pareciam funcionários de uma empresa qualquer, em manhã de segunda-feira. Ronaldinho tinha nos pés as mãos de um mágico; rápidos e mentirosos, inventavam truques para ludibriar os olhos da platéia e as pernas dos adversários. O próprio Dunga, em um Grenal, sentiu a peraltice irresponsável de um menino que não tomou conhecimento de que tinha a sua frente, o capitão do tetra. Desvencilhou-se do atual técnico da seleção, como Garrincha passava por seus “joões”. Parecia um Chaplin desfilando numa tela verde, a arte em preto e branco de Carlitos.
Depois de assombrar o mundo, a bola do menino murchou... Mas Ronaldinho tem currículo.
Na Copa de 1970, João Saldanha fez a receita e Zagalo colocou o bolo no forno. Levou pro México, os melhores jogadores daquela safra. Improvisou em algumas posições só para poder contar com os melhores . Piazza, volante no Cruzeiro, virou quarto zagueiro; Rivelino, meia de ligação, virou ponta esquerda; Tostão, foi adiantado para o comando de ataque e Jairzinho, deslocado para a ponta direita. O Brasil deu um baile e conquistou definitivamente a Taça Jules Rimet.
Hoje, as peças são outras, novas táticas que roubam espaços... Mas o talento de Ronaldinho não pode ficar fora do mundial. No futebol brutamontes de agora, o meia do Milan é um bailarino que pode desequilibrar. Um passe, um drible, um improviso, uma finalização, uma cobrança de falta ou escanteio podem fazer diferença na África. E Ronaldinho é sinônimo de qualidade em todos estes fundamentos. Se as demais grandes potências como Itália, Argentina, Alemanha e Espanha pudessem contar com ele, com certeza o levariam.
Que Dunga busque na memória o seu confronto com o endiabrado moleque gaúcho... Um drible desconcertante e um lençol no “velho” capitão colorado, antes de seguir em frente pela ponta direita do ataque gremista no primeiro lance e pela esquerda no segundo.
Para mim, Ronaldinho carimbou seu passaporte para a África naquele dia, naqueles lances. Pois Dunga, que conseguiu parar tantos craques do futebol mundial, sucumbiu diante de um adversário que hoje renega.
O tempo passou, é certo... Mas, mesmo jogando a metade do que jogava, Ronaldinho ainda é muito mais craque do que a grande maioria que estará na Copa.
Se a África é lugar de feras, o Brasil deve levar a sua...

Marcos Valnei

Abaixo o vídeo dos lances citados acima:


Rio da minha infância...

Um dia me perguntaram qual o motivo de eu gostar tanto de rios... Talvez o rio seja para mim a plena inteiração com Deus... Desde menino, adorava água correndo mansamente, levando em seu itinerário, mistérios que jamais minha curiosa mente conseguiu desvendar. Sombra de árvores, raios de sol vencendo a copa da mata e reluzindo na água mansa e calma de um rio, o barulho da correnteza... Tudo isso massageia minha alma e me deixa mais leve. Uma pescaria de caniço, um barco riscando o azul das águas, um banho refrescante... Rio é vida... Geralmente vamos até ele acompanhados de amigos, de pessoas que queremos bem. Rio me faz sonhar e contemplando a paisagem que o rodeia, me reencontro com o menino que ainda nada dentro de mim pelos rios da minha história...

Leiam a crônica de Joel Trinidad... Trata-se de uma obra tão universal que consegue não só retratar a sua infância como também a de muita gente. Confesso que me emocionei...


SAUDADES DO RIO DA MINHA INFÂNCIA

Ah! Que saudade do rio da minha infância!

Lá as águas tinham vontade própria e a gente não tinha vontade alguma de sair de lá.

_No três a gente pula, está bem?

_1, 2,3... Êba!!!!

Lá a água era doce, doce que nem os bolos de chocolate que a mãe da gente fazia e a gente levava para comer quando sentia fome, lembra?

Era tão bom poder ver os amigos da gente se divertindo, enquanto o dia ia passando na maior preguiça.

Subíamos na mangueira e lá de cima a gente gritava alto que nem Tarzan e se jogava de cabeça, segurando a ponta do nariz e sorrindo feito gente feliz.

Ah! Que saudades do rio da minha infância...

A tardezinha quando chovia, deixava a água quente e a gente mergulhava ainda mais fundo para buscar pedrinhas brancas e guardá-las na caixinha de madeira, cheio de iscas de peixe que a gente nunca colocava na água.

As roupas ficavam ensopadas com a água da chuva e a gente nem ligava para o que a nossa mãe diria quando nos visse daquele jeito. Mas, não tinha importância não. Lá a gente não pensava no futuro. Só queríamos na verdade aproveitar a grandeza do presente.

Pensando bem, a gente pensava no futuro sim. O Zeca queria ser médico. Dizia que montaria um consultório próximo lá do rio, para que quando algum outro garoto se machucasse tivesse a quem recorrer, e assim nenhuma mãe desconfiaria quando voltasse pra casa.

O Fabinho disse que seria astronauta e que lá do espaço, ele nos mandaria um sinal com reflexo de espelho quebrado, tipo aquele que a gente colocava mirando para o sol, anunciando da cerca que a turma iria se reunir no riachinho...

Ah! Que saudades do rio da minha infância...

Lá a gente era feliz e não sabia. Éramos todos ricos, ricos das próprias incertezas que a vida nos reservaria. Saudade daquele cheiro de mato, da água fria e dos sabiás moldando o cenário que a gente cresceu lembrando, e que hoje me faz chorar quando bate a saudade.

Aquele cheiro de lenha queimando no fogo, o gosto do caju apanhado do pé, o cheiro de capim espinhando as costas...

Hoje puseram um cerca lá.

Puseram uma cerca onde não havia limites, onde não havia dono, onde não havia um pedaço de chão que a gente já não tivesse colocado a planta do nosso pé.

Separaram o que foi infância do que hoje tem preço. E a gente não vai mais lá.

Separaram o que era pra sempre, e puseram a metade do outro lado, como se pudessem dividir o que já foi inteiro... E a gente não pode ir mais lá.

A velha calça rasgada e os chinelos sujos de lama, já não calçam mais meus pés, é verdade. O Fabinho, hoje é o Seu Fábio, dono de um pequeno ranchinho na beira da estrada e o Zeca hoje trabalha na cidade grande e eu que nem tinha vontade de ser gente alguma, virei Doutor. Como é essa vida!

Ah! Que saudades do rio da minha infância!

Lá eu fui inteiro num pedaço que era só metade, porque o resto era dividido entre nós.

E metade... Metade já foi aquilo tudo inteiro, moço!

Deu saudade da época em que as cercas não me diziam o que dizem hoje.

Puseram uma cerca no rio da minha infância e trancaram o meu peito no leito daquele rio.

_No três a gente pula, está bem?

_1, 2, 3...

Adeus!


Autor da crônica: Joel Trinidad

Olá pessoal...


Neste espaço, quero dividir com você minhas paixões, meus pontos de vista e coisas maravilhosas que chegam até mim via este universo virtual. Esta será minha revista, onde publicarei aquilo que julgar que valha a pena. Meu blog nasce sem pretenção alguma... Seu objetivo é simplesmente existir e receber minhas confissões... Bem vindos... E fiquem a vontade!