terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quero ser exceção

Karl Marx ensinou que “o homem é produto do meio em que vive”...
Então parei para pensar nos “meios” que moldaram o produto final da minha personalidade. Fechei os olhos e mergulhei dentro de mim... Fui transportado para a sombra da goiabeira do quintal da minha primeira infância... Corri por entre os manguezais de frutas tão doces... Colhi amoras e escapuli da vigília de minha mãe e por entre cafezais fui até o riozinho onde aprendi nadar...
Vi-me nas calçadas da rua onde brinquei de esconde-esconde... Sorri com os amigos que dividiram comigo a liberdade que os meninos de hoje nem imaginam que existiu... Soltei minha pipa, rodei meu pião, chutei minha bola e li histórias em quadrinhos...
Depois, segui viagem até a adolescência... Vi o menino tímido sonhando com o amor da menina mais bonita da sala de aula... Novos amigos e a velha felicidade improvisada com gente da minha idade...
Ouvi as histórias contadas pelos adultos em noites de reuniões familiares... Vi os exemplos que pude seguir nas ações dos que me rodeavam. Família e sonhos numerosos...
A próxima parada foi na juventude... Rebeldia, sede de saber, amizades solidificadas... Primeiro porre... Madrugadas e namoradas...
Talvez, eu seja produto de algumas canções do meu pretérito... Talvez traga em minha essência páginas dos livros que li... Na minha alma, as digitais de amores, professores, familiares e muitos amigos...
Hoje vivo em um mundo de adultos...
Brincando de me esconder dos problemas, aprendendo a nadar contra a correnteza do sistema... Um meio impregnado pela corrupção, pelos conchavos, pela ganância, pela corrida do ouro e do poder...
Recuso-me em ser um produto deste meio...
Para toda regra existe uma exceção...
E continuarei lendo histórias em quadrinhos à sombra da goiabeira na minha mais terna saudade...
Talvez assim, visitando meu COMEÇO eu consiga passar por este MEIO e chegar ao meu FIM sem ter virado um simples produto...
Marcos Valnei

3 comentários:

  1. Alegra-te, tua formação é a consistência das partículas da tua história, um pouco de vários exemplos que citou no testo, moldaram tua personalidade, e soubestes absorver as coisas boas, as qualidades esquecidas ou desprezadas no mundo corruptível dos sedentos pelo ouro e pelo poder. Tivestes a sorte de pertencer a um grupo que te lapidou te transformando no que tu és hoje. Em minha ótica, o velho Marx tem razão, o meio gera os seus próprios produtos, e foi o meio em que vivestes que te transformou num produto contrário aqueles tão abomináveis, ou seja, hoje tu és um bom produto. "As aves da mesma plumagem andam juntas" as aves canoras, não estão entre as de rapina. O "produto" mencionado neste caso não vem em sentido pejorativo, comparando-nos a objeto ou peça, muito embora o sistema capitalista assim nos considere, mas o termo 'produto" empregado pelo velho Marx, seja melhor traduzido por fruto, "o homem é um fruto do meio". Em suma, o homem é o que ele vive. O meio em que se vive, é quem formará o conceito de vida de cada ser humano.

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  2. Cacaraca! O comentário ficou melhor que a postagem. hehe
    Tenho consciência do que colocaste. Por isto disse que quero ser exceção. Por mais que hoje viva em um meio que me convida a insensibilidade, posso fazer a escolha de continuar pertencendo aos meios aos quais tive o privilégio de pertencer. Para o homem há a possibilidade de escolha, de não se deixar corromper... Optei por me sentir um produto com aroma de café da nossa mãe... Por ter a alma molhada pelo orvalho das minhas melhores emoções...

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  3. Sim, temos a opção de escolha, e o bom meio produz aqueles que tem consciência de escolher o bem.

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